Lúcia Moises
Revista Espírita
Número 23 – Abril de 2020
Federação Espírita Espanhola

 

Ao vermos tantos avanços científicos e tecnológicos que nos surpreendem a cada dia, pensamos: é a Lei do Progresso que se materializa diante de nossos olhos. Mas essas intensas mudanças, nas mais diversas áreas do conhecimento humano e das relações sociais, também resultam em enormes desafios para quem as vivencia.

Sempre coube à geração dos adultos orientar as novas gerações, tomando, assim, os referenciais de sua própria educação. Nestes tempos modernos, os pais não encontram mais referências seguras para orientar bem seus filhos. Tanto o acesso à informação, como a modelos de vida notoriamente diferentes daqueles que eles próprios tiveram, aumentam a incerteza na orientação que lhes devem dar.

O Espiritismo ensina que aos pais compete a missão de contribuir para o desenvolvimento intelectual e moral da criança para que ela progrida, para que ela se aproxime de Deus. Mas as circunstâncias complexas em que vivemos hoje tornam o cumprimento muito difícil. Esta é uma situação problemática porque a adolescência é em si uma fase da vida que tem características próprias muito desafiadoras.

Um olhar sobre o adolescente

O período da adolescência é marcado por profundas mudanças no cérebro, nas relações sociais e, como aponta Allan Kardec, no espírito. A Questão 385 de O Livro dos Espíritos registra que, entre os 15 e os 20 anos, o espírito muda porque recupera sua natureza e se mostra como era. “Seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez. Ainda é bom se fundamentalmente foi. Mas sempre adquire nuances que permaneceram ocultas em sua primeira infância.”

É interessante notar que a neurociência também vem apontando que entre o final da infância e a idade adulta o cérebro passa por profundas transformações que resultam em mudanças de comportamento. A presença de tédio e desinteresse pelas rotinas diárias, bem como a busca pelo prazer são exemplos dessas alterações. Isso porque, nesse período, em maior ou menor grau, o cérebro do adolescente perde de um terço a metade de seus receptores de dopamina (o neurotransmissor do prazer). Essa perda pode desencadear comportamentos voltados à busca de novidades ou emoções fortes.

A Internet, com as suas redes sociais e sistemas de mensagens instantâneas, tornou-se um espaço privilegiado para os jovens satisfazerem estas necessidades. Nesse sentido, é importante ressaltar que estudos recentes apontam a percepção de pontos positivos e negativos em seu uso por adolescentes espanhóis. As crianças valorizam as mídias sociais porque permitem que todos vejam, sejam vistos e, principalmente, sejam aprovados em seus discursos, fotos e argumentos. Por outro lado, são oferecidas formas atrativas de participação nos tempos livres (música, vídeos, chats, etc.). São também espaços que lhes permitem sair da esfera doméstica e construir a sua própria identidade, juntamente com os seus pares.

No entanto, as redes também podem causar sérios danos à autoestima das pessoas e, em particular, dos mais jovens, principalmente quando outros ignoram o conteúdo que exibem ou enviam mensagens de repúdio, desprezo, insultos e ofensas. A autoestima frágil em um momento em que os adolescentes buscam aprovação e sentimentos de pertencimento pode prejudicar seu bem-estar psicológico, levando, em última instância, à depressão.
É também nesta área que encontraremos algumas outras dificuldades entre os jovens, como a pressão para definir uma identidade quando ainda não a formou, o que muitas vezes leva a mentir sobre si mesmos, na tentativa de parecer bem-sucedido. A ostentação e o culto à própria imagem que aparecem nas redes às vezes estão muito distantes da realidade em que vivem. Fica claro nesses casos o valor de possuir mais do que ser.

Vale lembrar que a Internet, apesar dos inúmeros benefícios que trouxe à vida moderna, também favoreceu a tirania da velocidade e do imediatismo, assim como a dificuldade de concentração e reflexão. Obtém-se muita informação, mas geralmente de forma muito superficial. Nos adolescentes, essas dificuldades têm um impacto direto nos estudos. Acima de tudo, eles não têm foco.

Em relação aos jogos eletrônicos, vídeos, séries, preferidos pelos adolescentes e outras atrações oferecidas nas telas, os pais devem ficar atentos quanto ao tipo de conteúdo e mensagens que transmitem, pois, dependendo de seus temas, podem atrair sintonizações espirituais negativas para as pessoas que vivem lá.

En cuanto a la otra consecuencia de los cambios que se producen en el cerebro, o sea, la búsqueda de emociones fuertes que ofrezcan placer inmediato es necesario mantenerse consciente de que puede incluir algún abuso con graves efectos, como los del alcohol o de las drogas mais fortes. Para muitos jovens, o consumo de álcool e drogas tornou-se uma prática comum no final de semana para facilitar o relacionamento com outros jovens.

Outro desafio para os pais é a maneira desinibida como os adolescentes veem o sexo. Muitos não veem isso como um relacionamento, mas como um jogo puro, sem levar em conta doenças sexualmente transmissíveis, lágrimas, gravidez e outros problemas relacionados.

Adolescente, um espírito em formação

Não podemos esquecer que o adolescente é um espírito em formação e que precisa de ajuda para superar os estímulos externos que impedem seu crescimento. É importante fazê-lo compreender o sentido da vida e perceber que, antes de regressar à Terra, se comprometeu a cumprir um plano traçado para a sua evolução espiritual.

Em lares espiritualmente orientados, a tarefa de ajudar os adolescentes na transição segura da infância para a idade adulta pode ser mais fácil. A certeza de que os filhos são espíritos em vias de aperfeiçoamento moral, que trazem consigo tendências, sentimentos, boas e más experiências colhidas em vidas anteriores, permite aos pais não só compreender suas dificuldades, mas também abrir as portas ao diálogo, garantindo um clima de confiança e amor para que exponham seus problemas.

papel dos pais

É papel dos pais transmitir valores, normas morais e sociais aos filhos. Para aqueles que abraçaram o Espiritismo e querem ver seus filhos caminhando na mesma direção, esta tarefa é de particular importância, pois na vida dos jovens espíritas existem muitos paradoxos que exigem enfrentamento. Podemos citar como exemplo, a necessidade de contrariar tudo o que é descartável, com as verdades imperecíveis do Evangelho e da Filosofia Espírita; Diante do conhecimento superficial, empenhe-se em aprofundar-se nos estudos espíritas de forma reflexiva, na tentativa de obter melhor conhecimento de si mesmo, e dos meios que o ajudarão a tornar-se uma pessoa melhor. Muitas vezes você precisa neutralizar o hedonismo desistindo em favor dos outros, por meio de ações de caridade. Além do mais,

O jovem também deve ceder ao imediatismo, às fórmulas preparadas, para entender que a autoconquista só se faz aos poucos, com dedicação e força de vontade.

Acontece que muitos pais não percebem seu papel de apoiar seus filhos para que amadureçam emocional e intelectualmente de forma equilibrada. Às vezes até precisam de ajuda, pois não sabem como agir diante das novas circunstâncias do mundo moderno, deixando de exercer suas funções de transmissores de valores. Nesses casos, a Assistência Fraterna oferecida pelos Centros Espíritas poderia cumprir esse papel.

Sabemos que a missão nem sempre é fácil, mas, lembrando as palavras de Santo Agostinho, no Evangelho segundo o Espiritismo, diremos a todos os pais que se preocupam com o aperfeiçoamento espiritual de seus filhos, que Deus os recompensará abundantemente.

Bibliografia:
BALLESTOS GUERRA, JUAN CARLOS; PICAZO SANCHEZ, LAURA. As TICs e sua influência na socialização de adolescentes. Madri: Centro Reina Sofía de Adolescência e Juventude, 2018.
HERCULANO-HOUZEL, SUZANA. O cérebro em transformação. Rio de Janeiro: Objetivo, 2007.
KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Tradução de Gustavo N. Martínez e Marta Haydee Gazaniga. Brasília: CEI, 2010.
KARDEC, ALLAN. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Gustavo N. Martínez e Marta Haydee Gazaniga. Brasília: CEI, 2010.

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